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A IA pode tornar os sistemas educacionais mais flexíveis e inclusivos?
A sala de discussão "Algoritmos na sala de aula: políticas de formação de professores e inteligência artificial", realizada na RED, abriu uma conversa entre especialistas regionais sobre os desafios da inteligência artificial na educação.
Puede la IA hacer los sistemas educativos más flexibles

 

A inteligência artificial (IA) pode nos ajudar a inovar nos sistemas educacionais para torná-los mais abertos, flexíveis e inclusivos? Quais políticas de formação de professores precisamos implementar para que a IA possa apoiar efetivamente o trabalho dos professores e aprimorar a aprendizagem escolar? Estamos diante do fim dos sistemas educacionais como os conhecemos?

Essas foram apenas algumas das perguntas que percorreram a sala de discussão da RED realizada na quarta-feira, 19 de julho, que contou com a participação de mais de 50 funcionários públicos de 13 países da região. A reunião contou com a participação de especialistas convidados, como Martín Rebour, Diego Leal, Cecilia Sagol, Fernando Salvatierra e Magaly Zúñiga, entre outros.

A IA nos sistemas educacionais

As tecnologias generativas já são uma realidade. Elas trouxeram uma inovação radical que não pode ser ignorada, tanto na sociedade em geral quanto nos sistemas educacionais em particular. Nesse sentido, nossa região vem desenvolvendo valiosas iniciativas anteriores. Um exemplo é o uso de tecnologias adaptativas para oferecer suporte personalizado a estudantes. 

"A inovação tecnológica é sempre acelerada. A chave é buscar um equilíbrio com a inovação pedagógica, o que faz sentido para os professores e as linhas que a UNESCO propõe para melhorias, favorecendo formas novas e mais flexíveis de aprendizagem, como na pandemia".

Martín Rebour, Gerente de Formação do Plan Ceibal no Uruguai

No Uruguai, o uso de uma plataforma adaptativa para a aprendizagem de matemática tem sido um grande desafio e seus resultados estão sendo investigados com um prognóstico muito bom. A formação de professores tem sido uma parte fundamental dessa política, porque é sempre uma questão de encontrar um equilíbrio entre a inovação tecnológica e o que faz sentido para as equipes docentes.

Os desenvolvimentos de IA têm um impacto substancial nos processos de construção de conhecimento. No caso de tecnologias generativas, como o ChatGPT, os sistemas educacionais podem responder a altas demandas cognitivas. No entanto, esse novo desenvolvimento pressiona os propósitos fundamentais dos sistemas educacionais, o conteúdo do ensino, o papel dos professores e a avaliação da aprendizagem, dando origem a novas perguntas: os sistemas educacionais podem competir com o conhecimento acumulado e as crescentes capacidades de processamento de informações em ambientes digitais? Devemos concentrar os sistemas no desenvolvimento de habilidades socioemocionais para conviver com mais tolerância, empatia e reconhecimento dos outros? Como podemos pensar em políticas públicas que respondam à velocidade dessas mudanças? Precisamos mudar o que ensinamos?

Oportunidades da IA

A IA veio para ficar. Para aproveitar as oportunidades que ela nos oferece, podemos, antes de tudo, enfrentar os desafios que ela gera do ponto de vista dos processos de ensino e aprendizagem. Ou seja, elaborar modelos educacionais que fortaleçam as habilidades de pensamento profundo, crítico e analítico, juntamente com o desenvolvimento de habilidades de pensamento computacional (em que a IA é um elemento-chave de um novo currículo).

Em segundo lugar, podemos incorporá-la ao gerenciamento e à avaliação dos sistemas educacionais para incentivar a tomada de decisões com base em evidências.

"No IIPE, vemos duas linhas: IA para desenvolvimento de políticas, gerenciamento e avaliação no nível do sistema educacional, onde o potencial está em relação ao SIGEd; e outra linha principal que tem a ver com IA generativa na escola, que é imposta ao sistema educacional e muda a maneira como ensinamos".

Fernando Salvatierra, Especialista em Programas de TIC no Escritório para a ALC do IIPE UNESCO.

Em terceiro lugar, os professores precisam ser alfabetizados nessas novas tecnologias. A IA deve ser considerada como um objeto de estudo para desmontar a "caixa preta", ou seja, para entender como os algoritmos são projetados e funcionam, e para desnaturalizar os problemas relacionados a vieses e construção de padrões.

"A IA eleva o nível das habilidades cognitivas necessárias para aproveitar as tecnologias. Isso amplia as lacunas em todos os grupos, incluindo os professores. Há professores fazendo coisas espetaculares e outros que ainda não sabem o que pode ser feito com um computador".

Magaly Zúñiga, pesquisadora de políticas de TIC na educação na Costa Rica

Apesar dessas oportunidades, na região, as reflexões sobre inovação necessariamente se cruzam com uma profunda heterogeneidade social e cultural. Além das assimetrias históricas, uma pandemia as reforçou ainda mais. Assim, pensar em mudança requer não apenas mudanças curriculares, de gestão e de formação, mas também um aumento no financiamento para a formação de professores, a fim de conscientizá-los de seu papel essencial como agentes de mudança no contexto contemporâneo.

"A UNESCO acredita que a IA pode enfrentar os desafios do sistema educacional, como acelerar a realização do ODS 4. Mas, para isso, os professores de todos os níveis precisam ser alfabetizados tecnologicamente".

Flora Medina, Assistente Técnica de Desenvolvimento Curricular, Universidad Pedagógica Nacional Francisco Morazán (Honduras)

Uma abordagem integradora

Embora medo, incerteza, curiosidade e perplexidade tenham sido algumas das palavras que circularam no intercâmbio, a pesquisa sobre sua integração às práticas pedagógicas é essencial para entender o que acontece quando essas tecnologias são inseridas na dinâmica escolar, para avaliar as mudanças que elas promovem e para tomar decisões que levem em conta as formas como as políticas públicas assumem o desafio de integrar a escola à cultura digital. Esses medos, incertezas e curiosidades mostram, em suma, as tensões que revelam as enormes possibilidades e riscos que essas tecnologias oferecem ao sistema educacional em um contexto de profundas mudanças nas regras do jogo.

"Na Educ.ar, estamos trabalhando para desarmar o funcionamento da IA, a fim de gerar essa capacidade crítica e ter um conhecimento básico para enfrentar algo que amanhã será diferente de hoje"

Cecilia Sagol, Coordenadora de Pesquisa da Educ.ar (Argentina)

Em última análise, todo salto tecnológico tensiona os sistemas educacionais. Em vez de abordagens tecnofóbicas e tecnofílicas, precisamos construir uma visão crítico-reflexiva do novo cenário.

Um diálogo aberto

Para continuar abordando essa questão, a próxima edição do Fórum Regional de Política Educacional será realizada de 3 a 5 de outubro de 2023.

Esse evento, organizado pelo Escritório para a América Latina e o Caribe do IIPE UNESCO, juntamente com o OREALC/UNESCO Santiago, o IBE UNESCO, o Relatório GEM da UNESCO e a Equipe do Futuro da Aprendizagem e Inovação do Setor de Educação da UNESCO, será um espaço de reflexão sobre como as tecnologias digitais podem contribuir para a transformação dos sistemas educacionais.

Por meio de diálogos em painéis e workshops, serão abordados os usos das tecnologias digitais na região, as oportunidades e os desafios para a inclusão e a melhoria dos processos de ensino e aprendizagem e seu impacto no planejamento e na gestão dos sistemas educacionais.

 Para se inscrever no Fórum e obter mais informações e recursos, clique aqui.

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